
| Quem vê cara, não vê coração | Adolescência
“Não é possível compreender a profundidade de um ser humano apenas pela sua aparência.”
A minissérie britânica Adolescência, lançada pela Netflix em 13 de março de 2025, mergulha na complexidade da juventude e na influência das redes sociais. O drama criminal acompanha Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado do assassinato de uma colega de classe. Em quatro episódios filmados em plano sequência, a série explora temas como bullying, masculinidade tóxica e o impacto do mundo digital na formação da identidade. Aclamada pela crítica, a produção se destaca pela direção, roteiro e pelas atuações, especialmente a de Owen Cooper no papel principal.
O Mundo Digital e a Realidade Oculta
O ditado “Quem vê cara, não vê coração” reflete bem a essência da série. Como podemos realmente conhecer alguém? Seus pensamentos, emoções, traumas e influências são invisíveis aos olhos.
Nas redes sociais, vemos apenas o que há de mais bonito: felicidade, conquistas, momentos de alegria. Mas, por dentro, cada indivíduo enfrenta uma montanha-russa emocional. Essa dualidade se intensifica na adolescência, fase em que a identidade ainda está em formação, absorvendo o mundo exterior sem filtros.
Hoje, com a internet, tudo se torna público. É possível expor e ser exposto, sofrer bullying de forma anônima e ser influenciado por qualquer tipo de pensamento ou ideologia. Pode-se ter milhares de “amigos” digitais e, ao mesmo tempo, ninguém no mundo real. O paradoxo da era digital é que, enquanto tudo acontece online, muitos se sentem cada vez mais isolados.
Revelação
O ponto alto da série é o quarto episódio, um intenso interrogatório entre Jamie e uma psicóloga forense. Seu objetivo é compreender o raciocínio do garoto e determinar se ele tem plena consciência do crime que cometeu, além de entender a motivação até o momento obscuro e não declarado.
Filmado em um único plano sequência, o episódio proporciona uma experiência imersiva e real. A princípio, Jamie se mostra relutante em responder algumas perguntas, mas, conforme a conversa avança, suas emoções emergem com força. Perguntas sobre masculinidade, sexualidade e sua relação com o pai desencadeiam reações intensas, culminando em explosões emocionais violentas.
O garoto comum, aparentemente inofensivo, revela uma fúria interna assustadora. Como cabe tanta raiva dentro de alguém tão jovem?
Ao longo da entrevista, a psicóloga consegue conduzi-lo até que ele finalmente se revele. Seus pensamentos, sua visão de mundo e de si e os eventos que levaram ao crime vêm à tona, desconstruindo qualquer julgamento superficial que o espectador possa ter feito até então.
A Escola: Reflexo de um Sistema em Colapso
A escola de Jamie também é retratada, e o ambiente é caótico. A morte e a prisão de um colega de sala geram reações diversas entre os alunos: chacota, desdém, medo, indiferença, raiva. O desrespeito aos professores é evidente, e eles, por sua vez, parecem alheios ao bullying constante que ocorre entre os estudantes.
O colégio se assemelha a uma terra sem lei, um espaço onde ninguém quer estar. Essa representação expõe não apenas a negligência dos adultos, mas também o ambiente hostil que pode moldar jovens de forma destrutiva.
Reflexão Final
Adolescência nos lembra que o interior de um indivíduo é um universo complexo e, muitas vezes, oculto. A série não busca respostas fáceis, mas sim provocar questionamentos: até que ponto conhecemos verdadeiramente aqueles ao nosso redor? O que acontece quando um adolescente se perde entre suas próprias dores, influências e amizades?
A produção se destaca por sua abordagem realista e visceral, nos convidando a refletir sobre os desafios da juventude na era digital.
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