E se, ao entrar no trabalho, você esquecesse completamente sua vida pessoal? E se, ao sair, não tivesse nenhuma lembrança do que fez durante o expediente?

Lançada em 2022 na Apple TV+, Ruptura (Severance) é uma série de ficção científica e suspense psicológico criada por Dan Erickson e dirigida, em parte, por Ben Stiller. A trama acompanha Mark Scout (Adam Scott), um funcionário da misteriosa Lumon Industries que se submete ao procedimento da “Ruptura”. Essa tecnologia separa suas memórias em duas realidades distintas: o “innie”, que só existe dentro do escritório, e o “outie”, que vive fora sem saber o que faz no trabalho.

A premissa levanta questões profundas: identidade, trauma, propósito e alienação. Para o innie, o trabalho é sua única existência. Para o outie, o expediente desaparece como se nunca tivesse ocorrido. O mais perturbador? Os funcionários da Lumon sequer sabem o que estão fazendo. Eles apenas executam tarefas e batem metas.

O protagonista reflete essa dualidade de forma extrema. Enquanto seu outie, Mark S., está devastado pelo luto, vivendo sem propósito, seu innie desconhece essa dor. No ambiente de trabalho, ele é funcional e aparentemente feliz, sem carregar o peso emocional de seu outro “eu”. Mas isso é liberdade ou uma nova forma de prisão?

Opinião e Reflexão

A série levanta um dilema filosófico instigante: se pudéssemos dividir nossa mente para evitar o sofrimento ou fugir dele, isso nos libertaria ou nos aprisionaria ainda mais? O innie vive para trabalhar. O outie trabalha para esquecer. Nenhum deles tem controle total sobre sua vida. Essa reflexão nos leva a um paralelo com o Mito da Caverna de Platão.

O Mito da Caverna moderno

No Mito da Caverna de Platão, os prisioneiros vivem acorrentados dentro de uma caverna, vendo apenas sombras projetadas na parede, acreditando que essa é toda a realidade. Em Ruptura, os “innies” da Lumon são os “prisioneiros”: conhecem apenas a rotina do escritório, sem nenhuma noção ou informação do mundo exterior.

No mito, um dos prisioneiros escapa e descobre a verdade, mas ao retornar para contar aos outros, é rejeitado e considerado louco. Em Ruptura, os funcionários que começam a questionar o sistema enfrentam repressão, manipulação psicológica e punições.

O ponto central é o mesmo: quem detém o poder controla a realidade. Assim como a caverna impedia os prisioneiros de conhecerem o mundo real, a Lumon mantém seus funcionários isolados de qualquer verdade além do trabalho.

Escolha sua Prisão

Se você tivesse que escolher, quem gostaria de ser: o innie ou o outie?

Seria tentador apagar as dores e traumas da vida cotidiana. Mas viveríamos uma vida plena se nossa existência fosse apenas trabalho sem um “porque”?

Assim como no mito de Platão, Ruptura nos desafia a refletir: será que a realidade que conhecemos é apenas uma construção imposta? E se tivéssemos a chance de enxergar além, teríamos coragem de encarar a verdade?

Vai lá assistir!

Encorajo você a assistir à série e tirar suas conclusões e pensamentos sobre os variados temas abordados, esse tema aqui apresentado é somente um dos possíveis.